“Por vocês, lutaremos até o fim”, dizia a faixa trazida pelo time do Flu na entrada em campo antes do jogo.
São homens de palavra esses jogadores tricolores.
Porque lutaram com o mesmo ímpeto de quem encara uma grande batalha.
Batalhas que se sucedem a cada três dias, as quais o Flu, salvo a arapuca de Quito, só faz ganhar.
Foi assim em dez das últimas 11 vezes. Dez! Inacreditáveis dez!
Time de guerreiros.
“Eles têm a altitude. Vocês têm a gente”, respondia a torcida através de um colorido e grandioso mosaico.
Esta comunhão é o que há de mais espetacular no futebol brasileiro nos últimos anos.
Em campo, o Flu encurralava uma cautelosa LDU, que fazia o que podia para administrar uma grande vantagem de quatro gols.
Quatro que logo viraram três, já que Diguinho, um leão em campo, abriu o placar aos 13 minutos. Seu chute contou com providencial desvio do pernóstico Sobrenatural de Almeida.
Sim, pois quem mais faria com que a linda lua cheia de antes do jogo virasse chuva com direito a raios cruzando o céu do Maracanã.
Chuva que trazia um aspecto ainda de mais bravura ao espetáculo e que parecia querer lavar a alma tricolor.
Sobretudo porque antes do intervalo o craque Fred ainda fez o segundo.
Dominguez, goleiro equatoriano, como Rafael, trajava a camisa 22.
E como dois e dois são quatro, imaginava-se que ambos vaticinavam o que estava por vir.
Sob a bênção de Gravatinha, claro.
Que não perde para o Sobrenatural de Almeida, também sabemos.
A esta altura, a LDU já estava com dez, já que De la Cruz fizera falta desleal em Diguinho.
Do outro lado, o Flu não quis saber de descer para o vestiário. O barato era ficar ao lado da torcida, sentindo o calor de 70 mil torcedores.
“Vai dar”, uniam-se milhares em um só pensamento.
Principalmente depois que Adeílson assustou a LDU com menos de 20 segundos na etapa final.
Ou após o toque de mão de Pedro Larrea, em pênalti ignorado pelo árbitro paraguaio Carlos Amarilla.
A demora pelo terceiro gol começou a tirar o sossego de time e torcida – se é que o tiveram por algum instante.
Mas Gum, o guerreiro Gum, em cabeçada potente, deixou o Maracanã incendiado.
Só faltava um.
A merecida expulsão de Fred, porém, foi uma ducha de água fria nas pretensões tricolores.
Justa a expulsão, mas injusta a marcação da falta que gerou o destempero do atacante, registre-se.
Com o ataque acéfalo e sem seu homem de referência, o Flu já não conseguia mais chegar com o perigo de antes.
Verdade que em função também da catimba adversária, compactuada por sua senhoria, que tratava de amarrar o jogo, irritando a todos.
A expulsão de Jairo Campos, que puxou Alan, sequer adiantou, já que, a esta altura, os equatorianos não queriam mais nada com a hora do Brasil (nem com a do Equador).
E a Copa Sul-Americana foi parar mesmo nas mãos da LDU.
Mas Gravatinha não perde para o Sobrenatural de Almeida.
A frustração do tétrico personagem ao perceber a reação da torcida após o apito final chamou a atenção.
“Ué, o Flu foi campeão?”, perguntou ao Gravatinha, ao ver time e milhares de tricolores se abraçando e reverenciando mutuamente.
“Eles estão encantados”, respondeu-lhe o fantasminha.
“É… Encantados? Como assim?”
“Eles se amam muito e há dois meses estão encantados”, repetiu. “Prometeram que, aconteça o que acontecer, estarão sempre juntos”.
“Nunca vi nada parecido”, disse Sobrenatural de Almeida num misto de raiva e decepção.
“Time de guerreiros”, ecoava o canto da torcida sobre um atordoado e torpe sei lá o quê.
Lição de honra, amor e dignidade. É o que vem mostrando para todo o Brasil este grupo de jovens atletas, que já ultrapassou os limites do que se julgava ser real.
Seja qual for a sorte do time, serão lembrados eternamente pela façanha alcançada.
“Você acredita em milagres, Gravatinha?”, provocou Sobrenatural de Almeida.
“O maior milagre, meu caro, é a paixão da torcida”